[Noticia] Pastor é expulso de Vigário Geral por traficantes
BRASIL – Quando chegou à Favela de Vigário Geral, há dois anos, para
trabalhar com evangelização na Igreja Pentecostal Deus é Amor, na
comunidade, o pastor Odilon Calixto da Cunha, 32 anos, não imaginava
que sua vida a partir dali se transformaria num inferno. Perseguido por
traficantes, que não aceitavam o fato de ele não colaborar com o crime,
o pastor e sua família foram expulsos da favela.
Depois de passar a noite com a mulher e os seis filhos sob a
marquise de um supermercado em Duque de Caxias, o pastor procurou a 38ª
DP (Brás de Pina). Policiais foram à comunidade para que Odilon pudesse
recuperar seus pertences. A casa de dois andares, tinha virado um
dos ‘quartéis’ do bando: havia drogas, munição de fuzil e pistola,
roupas camufladas e até uma granada abandonada pelos traficantes, que
fugiram.
“Sei que não poderia ter este sentimento de revolta, mas quando meu
caçula de dois anos me abraçou, sentindo frio, deitado na calçada, não
pude querer outra coisa senão que todos eles sejam presos e paguem pela
humilhação que nos fizeram passar. Foi muita covardia mandar minha
mulher e meus filhos saírem de casa só com a roupa do corpo, sem poder
almoçar a comida que estava no fogão. Quero que eles sofram”, desabafou.
Mineiro, Odilon chegou a Vigário Geral trazido por um outro pastor,
que ele descobriu mais tarde, atuar como colaborador do tráfico.
Comprou uma casa por R$ 12 mil e não queria que os filhos crescessem em
meio a homens armados, mas só deixaria a comunidade depois que quitasse
o pagamento do imóvel, que ainda não chegou à metade.
“Eles me criticavam porque eu não os apoiava. Certa vez, pediram
para eu que socorresse um bandido ferido no meu carro, e eu disse que
estava quebrado. Quiseram que eu levasse armas até Acari, e eu falei
que jamais poderia fazer aquilo. Ofereceram frango de uma carga
roubada, e não aceitei, mesmo só tendo feijão e arroz em casa. Eles
diziam que outro pastor era um ‘braço’ deles e que, se eu não ajudava
em nada, era porque tinha ligações com a polícia”, contou.
Polícia já tem pistas sobre três invasores da residência
No dia em que chegou a Vigário, Odilon foi ‘convidado’ a ir até a
boca de fumo, onde teve que apresentar ao gerente geral do tráfico
Carlos Eduardo Amorim de Oliveira, o Du Gordo, as certidões de
nascimento das crianças, sua certidão de casamento, as passagens da
viagem e a carteira que comprovava que era pastor.
O religioso pregava duas vezes por semana na favela e, nos outros
dias, visitava comunidades, presídios ou igrejas fora da cidade.
“Evitava passar perto deles, mas quando tinha que falar com os
bandidos, chamava até de senhor. Meus filhos nunca brincaram na rua
porque nosso mundo é muito diferente do deles, viemos da roça. Vi muita
coisa triste, muita guerra, um inferno. As crianças nunca perceberam
minha preocupação e agora, mesmo sem esquecer a humilhação, só quero
ter paz”, disse ele, antes de carregar a Kombi que levou seus pertences
para fora do Rio.
O pastor indicou os apelidos dos três bandidos que expulsaram a
família, China, Pixinguinha e Átila. A polícia vai identificá-los para
pedir a prisão por roubo, violação de domicílio, roubo no interior de
residência, porte ilegal de arma e tráfico.
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